8.1.09

joão bénard da costa deixará a cinemateca

fui sempre terminantemente contra a continuação de jbc na cinemateca. achei um tiro no pé que se tivesse ultrapassado a lei para conferir «poderes vitalícios» a um indivíduo. não está em causa saber se o modo como desempenhou as suas funções foi meritório, porque por aí temos dezenas de presidentes de câmara, e outros que tal, empoleirados de pedra e cal a pretexto do mérito e da vontade do povo (que para o caso se viu na petição, com ar de anúncio de calamidade, que os vips assinaram).
agora, sabe-se que jbc deverá abandonar a cinemateca por motivos de saúde, e perante a saúde as ganas de mandar vão-se abaixo. lamento que assim seja, porque jbc é um dos nossos mais valiosos pensadores do cinema e autor das mais interessantes crónicas e, por aí, seria excelente para todos nós podermos contar com ele até eternamente.
mas se o motivo é lamentável, o afastamento de jcb da cinemateca é, para mim, necessário. o mesmismo também ali chegou e estou convencido de que uma cabeça nova, com vontade de fazer o que ainda possa ser feito, é essencial em todas as instituições. a hipótese de pedro mexia ficar à frente da casa parece-me fantástica e alegra-me. reconheço seriedade ao seu trabalho e acredito que seja para si fascinante fazer mais pelo cinema em portugal, como acredito que usará a imaginação que indubitavelmente tem para suceder.
vivo em vila do conde, cidade que deixou de ter um cinema há vinte anos e que se tem compensado com um cineclube que já foi mais dinâmico. neste espaço geográfico teria alguma oportunidade de me acudir do porto para ver clássicos em modos, assim postos em tela grande como os filmes a sério são feitos para se ver. e:
- agride-me que a dinamização cinéfila do porto não tenha nunca passado pela iniciativa da cinemateca, que nunca se propôs e apenas se disponibilizou, quando lhe pareceu, para colaborações pontuais.
- agride-me que, quando se levantou a hipótese da criação de um pólo da cinemateca no porto, a posição imediata de jbc tenha sido de desprezo da ideia, certamente porque gerir as duas casas e obrigar-se a vir ao porto mais vezes não lhe interessaria de modo algum.
- agride-me que no porto possa ver apenas um ou dois clássicos por semana. quando, num só dia, a cinemateca (de lisboa, digamos assim) pode mostrar mais do que o porto consegue mostrar num mês inteiro.
se isto, por si só, não revela a miopia da cinemateca em relação às suas genuínas funções de divulgadora do cinema, então já não entendo nada. ou as instituições só devem colmatar lacunas e potenciar os seus serviços quando as pessoas se manifestam? e foi preciso o quê? uma petição de vips? e era só o que precisávamos, agremiar vips para levar a cinemateca a fazer algo pelo resto do país (que manifestamente vai mais longe do que as pontes vasco da gama ou vinte e cinco de abril)?

4 comentários:

  1. Apenas para complementar, deixo aqui as observações do realizador António Pedro Vasconcelos , que subscrevo inteiramente (cheguei até elas via http://daliteratura.blogspot.com):

    ««Em termos de programação, de organização de ciclos temáticos, a Cinemateca Portuguesa é do melhor que há. Mas exclusivamente no que diz respeito à divulgação dos clássicos. Além disso, dispõe de uma biblioteca excepcional. Onde os problemas começam é no conservadorismo e na política relativamente ao cinema português, onde reina um sectarismo inadmissível, uma política do gosto inaceitável e contraditória, aliás, com o culto dos “clássicos”. [...] Uma Cinemateca, como uma Biblioteca, um Teatro Nacional ou um Museu devem servir, antes de mais, para preservar e manter vivo o património nacional. Ora, sobre esse aspecto, as confessadas simpatias e antipatias, muitas vezes pessoais, do seu Presidente, o laureado Dr. João Bénard da Costa (a quem não saiba, convém lembrar que não foi João César Monteiro, nem Joaquim Leitão, nem João Canijo, mas o director da Cinemateca quem recebeu o Prémio Pessoa pela sua “obra”!), são inadmissíveis num responsável por uma instituição pública como é a Cinemateca. [...] Muitos dos protagonistas morreram sem que o Dr. Bénard da Costa, preocupado sobretudo em deliciar-se com a exibição perpétua dos clássicos nas suas salas e em promover os seus protegidos, tenha mexido um dedo para lhes recolher o testemunho: onde está a memória da comédia dos anos 1930 e 40? E mesmo do chamado Cinema Novo? [...] É urgente, agora que atingiu o limite de idade, que o Dr. João Bénard da Costa ceda o seu lugar a alguém que revele dinamismo, isenção e respeito por todos os que contribuíram e contribuem para que esta indigente realidade que é o cinema português não fique ainda mais empobrecida depois da sua passagem.»

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  2. carlos, obrigado pelo comentário e por esta achega. sim, é um pouco isso, sim. caramba, é preciso aceitar o que é tão evidente.
    abraço

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  3. Anónimo9/1/09 16:01

    E que deixe, esse gordo babão.

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  4. o pedro mexia é um homofobico de extrema direita. devias ter vergonha de o apoiar.

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