29.3.07

«Eras atraente e belo; eu não:
Apenas amava.»
nunca se saberá ao certo se o fernando pessoa era homossexual, mas é curioso verificar que, naquele tempo de castração, o nosso maior escritor teve encaixe para deixar textos como a defesa de raul leal, o poema «antonioo» ou este inédito que agora vem a lume e pode ser lido na íntegra no blogue do amigo pinguim.

3 comentários:

  1. Como já disse ao Pinguim, sem dúvida alguma que o poema--como vários outros do ciclo de poemas ingleses--conota uma sexualidade ambígua, ou mesmo homossexual. Quanto a isso constituir prova alguma de que Pessoa era ou não homossexual (mesmo de armário), vai uma distância tão grande como a de alguém um dia afirmar que Dâmaso Salcede é Eça de Queirós. Num poeta em que o eu é desde logo a mais fugidia das entidades, uma asserção desse tipo torna-se ainda mais complicada. Enfim, não é por suposições--sempre viáveis, sempre questionáveis--que vamos ganhar na apreciação do poema. Não é preciso que Pessoa seja homossexual para que o poema adquira a intensidade e melancolia que o caracteriza, mas se Pessoa foi de facto homossexual o poema tampouco perde em intensidade. Se recuarmos aos primórdios da nossa literatura concluiremos que o facto de sabermos que quem escreveu as cantigas de amigo eram homens em nada diminui a intensidade e dramaticidade feminina das mesmas, não?

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  2. caro pedro, não fiquei certo se me estavas a acusar de ser daqueles que faz um forcing para que o pessoa seja ou não considerado um poeta homossexual. mas aproveito para responder assim: pouco importa com quem o senhor ia para a cama - e ao que parece não iria muito, que as maiores teorias apontam para que fosse pouco dado a diversões do tipo -, o que me importa, e o que o meu post vem louvar, é o encaixe que ele teve de escrever - e deixar escritos, por isso sem destruir de seguida - uma boa quantidade de textos que, em diversos géneros, vieram revelar a sua abertura não preconceituosa em relação ao tema.
    é isso que o meu post diz.
    a literatura, para mim, não tem mesmo sexo. e por isso não me interessa saber com quem dormem os poetas (assim como mando pro caralho - desculpem a palavra, quem se ocupa de mo perguntar tb. ai moças e moços do meu país...), mas acho importante que alguém revele uma opinião, uma consciencialização. e por isso acho precioso que o nosso maior escritor possa ficar do lado de quem percebeu, tão tenrinho ainda que o sec. XX ia, que a sexualidade é um campo ilimitado e de pura liberdade. como gosto do pessoa, gosto ainda mais do pessoa por não ter sido um idiota e ter-se exceptuado em relação aos do seu tempo também nisto.

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  3. caro valter,
    não pretandia acusar-te de nada, antes esclarecer um potencial equívoco por parte daqueles que o entendessem assim, como de resto me pareceu que o pinguim faz. No resto, concordo plenamente com o teu comentário explicativo, e a minha admiração pelo Pessoa tb. cresce pelas mesmas razões, exactamente por, independentemente da orientação sexual que tivesse, ter revelado uma abertura de espírito–e corpo–de facto rara à época.

    E sim, já passei por conferências em que ditos especialistas procuravam–e julgavam encontrar–referências fálicas em toda a obra, e propunham-nas como índices da sexualidade do dito cujo... pelo pouco que tenho lido do que escreves aqui no casadeosso não pensei que fosses um desses.

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