23.6.10

histórias do cinema


COLECTIVA “HISTÓRIAS DO CINEMA II”
Biblioteca Municipal Rocha Peixoto
Póvoa de Varzim - 23 Julho a 6 de Agosto 2010

Os filmes de que gostamos têm essa capacidade... Trabalham-nos por dentro quando os vemos e deixam-nos uma cicatriz perpétua, um rasgão que nos tatua a alma para o resto da vida. Para o bem e para o mal eles são os filmes da nossa vida, aqueles que desenham os territórios onde gostamos de nos encontrar/perder.

O Clube de Cinema 8 e Meio convidou artistas plásticos, arquitectos, escritores, músicos, fotógrafos, antropólogos, poetas, biólogos, ilustradores, designers, realizadores e apaixonados por cinema para escolherem um filme e, numa folha A5, criarem uma "imagem".

A exposição pública dos trabalhos decorrerá entre os dias 23 de Julho e 6 de Agosto na galeria da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim.

As obras estarão à venda ao preço simbólico de 50 euros. As verbas revertem para as actividades do Clube de Cinema 8 e Meio.


18.6.10

saramago

o desaparecimento de algumas pessoas mata-nos a todos um pouco. passamos mais num dia assim.
o que saramago fez por nós foi demasiado, pela disponibilidade para se incomodar com os assuntos da comunidade, exercendo a liberdade e fugindo à padronização e à geral desmobilização.
estou profundamente triste por saramago e por todos nós.

10.6.10

Marcel Saint-Pierre | Exposição


Figuras da Cor
Marcel Saint-Pierre
Exposição

Biblioteca Rocha Peixoto
Póvoa de Varzim
11 Julho a 9 de Julho

Inaugura 11 de Junho, pelas 21h30


Figuras da Cor
A obra de Marcel Saint-Pierre é uma interrogação sobre a matéria que compõe a pintura e a cor propriamente dita. A sua pintura estabelece um sistema de auto-referência nos primeiros momentos do processo artístico, mas rapidamente as superfícies provocam uma instabilidade das interpretações. Nos anos de 1980, os seus trabalhos foram unicamente feitos com acrílicos puros; o que significa que o suporte, a cor e a imagem são uma só e única coisa; uma só matéria.
É pelo seu próprio processo que consegue esse resultado. Após este período, Saint-Pierre desenvolve a sua técnica. A Historiadora da Arte, Jocelyne Lupien descreveu-a da seguinte maneira: «No início, o artista dobra e redobra uma tela grande e limpa , submergindo-a em vários recipientes com pigmentos muito líquidos. De seguida deposita esta tela embebida por cima de um plástico estendido sobre o solo. Desdobra a tela sobre o plástico, de maneira a que a cor se transfira parcialmente aqui e ali. Em seguida, trabalhando sempre sobre o solo, ele retira a tela e guarda só o plástico sobre o qual ele pinta [...] signos de cor que com o acaso do contacto se depositaram sobre o plástico. Uma vez terminada, esta película de cor pintada sobre o mesmo plástico, retira-se verticalmente e fixa-se sobre uma tela montada.»* Esta maneira de trabalhar do artista provêm de uma mistura de técnicas e de teorias que vêm do surrealismo, da psicanáli- se, do pós-estruturalismo, do automatismo quebequense e do pintor Paul-Émile Borduas, das pesquisas do grupo francês Support-Surface, da tradição Post-painterly abstraction e das preocupações plásticas da pintora Helen Frankenthaler e também de um pintor como Leonardo Cremonini.
As pinturas de Saint-Pierre são tanto abstractas como figurativas, reconciliando o fazer e o saber, o acaso e o cálculo. Poderia chamar-se à sua pintura de pintura analítica, pois ela é a prova de um trabalho de análise sobre ela própria, sobre as suas condições materiais. Pois a pintura é sobretudo matéria, mas uma matéria que possui um sentido materialista (não essencialista ou idealista).
A exposição Figuras da Cor, partindo da mesma estratégia, reflecte esta nova fase técnica e empreendimento teórico. Os quadros expostos são o traço ou rasto desta matéria pictórica, o pigmento em si próprio. As obras são tecnicamente formadas a partir de uma impressão retrabalhada sobre uma folha de plástico e transferida no final para uma tela; impressão extremamente fina como a nossa própria pele.
De facto, estamos no domínio de uma abstracção, mas esta impressão esconde secretamente, e por um outro lado afirma em transparência, as preocupações relativas às questões de ordem social ou evocativas de várias temáticas: música, cinema, etc. Por exemplo, El Deserto Rosso, apresentada en 2009 na exposição Histórias do Cinema, refere-se ao filme de M. Antonioni. As telas mais recentes adoptam a forma oval de um escudo de defesa relativas aos raios infravermelhos ou ultravioletas.
As pinturas de Saint-Pierre contêm sugestões figurativas que não podem existir fora da contaminação das matérias pictóricas. É da articulação de todos estes elementos (matéria e sentido cultural) que surge algo que eu designaria como sendo o sistema significante de Marcel Saint-Pierre.

Anithe de Carvalho
Curadora da Exposição e Historiadora da Arte