17.3.08

exposição de rui effe na casa da juventude em esposende

articulações, sobre desenhos de rui effe

numa primeira aproximação, muitas das figuras de rui effe parecem vir daqueles bonecos de cartão que, com articulações de metal, movimentam membros e cabeça, cima e baixo e aos círculos. isto porque é frequente depararmo-nos com figuras cujos membros ou cabeça parecem jazer pelo chão como peças por montar na estrutura no corpo. esta é uma primeira impressão que ajuda a que só numa segunda camada de entendimento passemos dessa ideia, de alguma lúdica aparência, para uma interpretação mais correcta e gravemente mais violenta daquilo que afinal estamos a ver. é nítido que o que está em causa são figuras que apresentam algum tipo de deformação ou mutilação, numa intensa reflexão sobre a condição da diferença física, como um fascínio dotado de boa dose de medo. os excelentes desenhos de rui effe reflectem sobre a candura interior por oposição a uma acidentada forma. é como recorre muitas vezes a rostos e corpos infantis que querem aludir à esperança remanescente ou, então, já defraudada. isto vê-se como se effe mostrasse máquinas que se fizeram com defeito ou se avariaram, ficando jogadas para um canto sem saberem exactamente como agir, sem saberem o que lhes compete, afinal, na condição mais difícil com que se deparam na vida.

não há concessões. os corações são pretos e tristes. existem animais mesclados com as figuras humanas como se uns e outros fossem da mesma bestial qualidade. o definido de alguns membros não é acompanhado pelas proporções dos outros, criando aquela impressão de que quem não tem pernas muscula os braços, ou quem não tem braços muscula as pernas. existem, assim, elementos de perfeito trabalho físico, como apontamentos de beleza num corpo não totalmente completo, ou parcialmente imperfeito. tudo leva à ideia de o indivíduo ser, ao fim de contas, fragmentário e composto por realidades muito diferentes.

como um boneco, o homem é bicho de articulações estabelecidas entre medos e sonhos, entre braços, pernas e todo o espaço quanto ocupe. o homem é uma realidade só passível de ser aferida pelo recurso também ao subjectivo e até insondável, por se encontrar sem hesitação no complexo raio de ligações emotivas que, as mais das vezes, estão para lá do corpo, como um pé ou uma mão que se arreda e sabemos que, não podendo ser recuperados, farão sempre parte do indivíduo no que há de mais profundo na soma do seu ser

2 comentários:

  1. caro valter,

    uma profunda tristeza vinha-me inundando o ser, ao constatar que o jota-éle - jornal de letras, artes & ideias, tinha deixado de grafar o teu nome incorrectamente. "mais uma tradição que se perde" pensava eu, de cada vez que lia o teu nome, algumas vezes até respeitando a ausência da maiusculidade da fonte tipográfica.

    eis senão quando, ontem, pego no exemplar saído na semana passada e leio um estrondoso "Walter Hugo Mãe", em página e contexto que já não recordo. como calcularás, senti uma alegria estonteante, todo eu tremia, da cabeça aos pés. durante meses cheguei a pensar que o persistente escriba que insistia, contra todas as evidências, em colocar o dâbliú na tua identificação, tinha sido despedido ou até deportado para longínquos meridianos.

    volto, assim, ao meu jubiloso exercício de pronúncia: "uálter... uálter... uálter...", alternado com a sugestão vibrante da imagem de um revólver alemão.

    muita saúde e que deus te acompanhe.

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  2. hheheheh. não posso fazer nada. há gente que mesmo diante dos meus livros copia o nome com w. é uma cegueira que já lhes vem do interior do cérebro. e por mais que vejam o meu nome grafado, não vão nunca acertar afinal no modo como se escreve. já não me arrelia. não sou eu quem fica mal, são eles, por julgarem que sou alemão quando era mais fácil acreditarem que sou mesmo português e, por isso, o meu nome se escreve com v. quando nasci, não eram cá permitidos caractéres malucos. hoje em dia é tudo uma rebaldaria. pode escrever-se soraya, imagina. que escândalo. hehehehe

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