o osso da pila
para o eduardo pires
pensávamos que se partíssemos o
osso da pila morríamos num instante sem
mais crescer, sem casar
pensávamos que o osso da pila era
o mais impressionante e que talvez fosse
articulado e que seria fundamental para crescer e para casar
pensávamos que faríamos filhos à
custa do osso da pila e que não os faríamos se
o partíssemos nem cresceríamos e nem poderíamos casar
pensávamos que casaríamos um dia, aterrorizados por
uma infância ansiosa, com as mãos no osso da pila para
o proteger, razão também pela qual achávamos ter podido
crescer e casar
pensávamos que o osso da pila justificava crescer e casar
não casámos, não partimos o osso da pila, crescemos,
devíamos ter morrido na infância, num instante
*
«o osso da pila», do livro o inimigo cá dentro, volume contabilidade, poesia 1996-2010, alfaguara 2010. pedro vieira pode ser encontrado aqui
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