4.4.11

«o osso da pila» visto por pedro vieira



o osso da pila

para o eduardo pires


pensávamos que se partíssemos o

osso da pila morríamos num instante sem

mais crescer, sem casar


pensávamos que o osso da pila era

o mais impressionante e que talvez fosse

articulado e que seria fundamental para crescer e para casar


pensávamos que faríamos filhos à

custa do osso da pila e que não os faríamos se

o partíssemos nem cresceríamos e nem poderíamos casar


pensávamos que casaríamos um dia, aterrorizados por

uma infância ansiosa, com as mãos no osso da pila para

o proteger, razão também pela qual achávamos ter podido

crescer e casar


pensávamos que o osso da pila justificava crescer e casar


não casámos, não partimos o osso da pila, crescemos,

devíamos ter morrido na infância, num instante


*

«o osso da pila», do livro o inimigo cá dentro, volume contabilidade, poesia 1996-2010, alfaguara 2010. pedro vieira pode ser encontrado aqui

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