Ando deliciado com a leitura de ‘A Máquina de Fazer Espanhóis’, o novo romance de Valter Hugo Mãe. Não tenho tido muito tempo para o fazer, submergido por uma carga excepcional e inaudita de obrigações profissionais – que me tem exaurido os dias e as noites – e pela escrita e gravação do próximo disco dos Mão Morta nos apertados prazos a que nos comprometemos. Mas ainda bem que tal acontece: em situação normal tê-lo-ia devorado num ápice e estaria agora a lamentar a perda da sua companhia; assim, tenho esticado a delícia por semanas…
Já sei que quando me vou deitar, bem dentro da madrugada, os olhos piscos e o cérebro aos tropeções, vou encontrar o Sr. Silva e os outros Silvas todos lá do lar da Feliz Idade e, pelo menos durante duas ou três páginas, compartilhar as suas memórias e impressões deste Portugal que suspira ser espanhol e ter salários europeus e com eles rir ou apoquentar-me. Depois, com a beatitude dos justos, adormeço de cansaço, deixando a catrefada de Silvas a imiscuir-se-me nos sonhos!
De manhã não me lembro de nada, claro, e vou para os meus afazeres de peito feito e energia renovada. Mas com o avançar das horas e o decompor do dia começo a suspirar pelos Silvas e o doce momento em que me vou enfiar na cama e, durante duas ou três páginas, embrenhar-me no quotidiano do lar de idosos a despedir-me dos Silvas que vão saindo da vida. Mas é uma saída tão terna e tão suave que a despedida me deixa feliz, num sono relaxado e pacificador.
Às vezes baralho-me um bocado, não sei se algo foi lido ou sonhado, e volto atrás a matar saudades com os Silvas que já tinham ido embora e prolongo ainda mais o prazer da leitura. Aliás, já estou deserto pela hora em que irei deitar-me para avançar mais duas ou três páginas na ‘Máquina de Fazer Espanhóis’…
Este Adolfo...anda todo queimado das drogas...è um tipo engraçado, este Adolfo.
ResponderEliminarO Adolfo não só tem a voz que lhe sonhei ao antónio silva, tem é uma outra voz própria excepcional não feita de cordas vocais mas de alfabeto.
ResponderEliminarMagnifico. :)
ResponderEliminarAdolfo e Valter, sob escuta em tempos idos no Teatro Aveirense. Uma conversa inacabada, descambando para universos pessoais (esses encantadores locais, que são as nossas ideias dentro de uma cabeça).
ResponderEliminarNão li a Máquina de fazer Espanhóis, em contrapartida um amigo meu comprou o livro, colocou-me ao corrente da trama, emocionado confifenciou que já não parava assim num livro há muito tempo. Que não consegue deixar de ler, que às vezes fica triste (partes da nossa biografia andam por aí escritas à solta, sob nomes diferentes).
Vou ler. Para ver o que encontro lá dentro.