21.12.04

nove exposições

«i shall paint my nails red», pintura de lisa santos silva na galeria cento e onze
o rosto de lisa santos silva é inesquecível. o mais inesquecível de todos. nem vos digo mais nada. urge que a descubram os que ainda não o fizeram.

«marquise», trabalhos de joana vasconcelos na galeria cento e onze
uma artista desconcertante que procura na arte uma forma de reposicionar a mulher – e logo toda a família – nos seus afazeres domésticos, no seu espaço doméstico; como se procurasse salvar a mulher de uma rotina, enfim, perigosa.

«sleeping beauty», pintura de graça martins, galeria são mamede
os trabalhos planos de graça martins são delicados e ousados. os rostos das suas personagens têm algo de perverso, como por vezes só a beleza intensa consegue ser perversa, por apelar ao nosso desejo.

«…da casa do cão que tinha um marinheiro», pintura de valdemar santos, galeria fernando santos
espantosa a visão escura e vazia das casas e dos exteriores na pintura de valdemar santos. uma vibrante criação de espaço, como se a tela fosse um lugar desocupado onde algo se espere ver surgir.

«o tempo das suaves raparigas», pintura de luísa correia pereira, galeria fernando santos
a riqueza cromática dos trabalhos de luísa correia pereira não esconde, ainda assim, o drama das suas figuras. há meninas com os pés a sangrar e espaços garridos ilhados por cores outras, organizadas segundo formas estranhas. a pintura desta artista é metáfora da cor sobre a cor, para regressarmos à abstracção de nos considerarmos indivíduos pela presença, sem mais nada. como se aprende matemática pela quantidade de pauzinhos, que podem ser maçãs ou pêras; nesta pintura podemos ser nós uns círculos, ou uns rectângulos, ou o que seja.

«museu dinâmico de metamorfoses», escultura de isabel meyrelles, fundação cupertino de miranda
a única artista portuguesa rigorosamente assumida e reconhecida como surrealista. as suas esculturas, com participações importantes de artur do cruzeiro seixas ou mário cesariny, são desconcertantes e procuram, as mais das vezes, trazer às três dimensões imagens do surrealismo universal, passando por interpretações de textos de bretón e dos artistas já citados.

«hopeweapons», desenho de emílio remelhe, galeria serpente
a delicadeza do desenho, a fragilidade da arte como arma de esperança contra tudo quanto nos possa desumanizar. lindíssimos trabalhos do emílio, feitos de simplicidade e imaginação.

«s/título (pintura)», pintura de antónio gonçalves, museu de amadeo de souza cardoso
a cor sobre a cor sobre a cor para, satisfeita a tela, fazer uma cor além do imediato, além do esperado ou visto. o trabalho de antónio gonçalves é comparável ao do boticário na confecção dos perfumes, cada pitada de um novo elemento fará uma solução nova e rara. se a fórmula se perde, o resultado será irrepetível, como é cada um dos seus quadros.

2 comentários:

  1. e então a exposição de Paula Rego?... não merece uma palavrinha?... talvez... um nº 10?... :)

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  2. adoro a paula rego, mas a exposição de serralves frustrou-me. apresentaram apenas peças recentes, e parece-me que para uma retrospectiva tão ambiciosa os intentos ficaram muito por cumprir. de todo o modo seria a décima, se eu quisesse escolher dez exposições

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