um dia, o jorge disse-me que poderíamos visitar a fiama quando fossemos a lisboa. fiquei ansioso pela oportunidade de estar com quem tanto admirava. aconteceu numa tarde em que chegámos para uma sobremesa bonita e ela estava muito bem disposta. foi quando nos cedeu o livro «fábulas» para primeira edição na quasi. explicou-nos porque tinha um pequeno quadro da paula rego, muito antigo, ali pousado no sofá. explicou-nos porque a fruta que se via no seu jardim era tão grande. disse que queria rever toda a sua obra e que estava com vontade de pôr mãos ao trabalho. poucas semanas depois a sua doença agravou-se e deixou de comunicar. lembro-me de ir vê-la ao hospital, num fim de tarde. o meu pai havia morrido pouco antes. saí de lá a chorar. senti uma familiaridade estranha com a fiama. pedi ao gastão que lhe desse um beijo meu e que lhe dissesse, num momento de lucidez, que ela era para mim muito importante. estava errado. ela não era, ela é. aquelas coisas que só nos aparecem nítidas quando as situações exigem que os nossos sentimentos se expliquem. durante este fim de semana, a fiama foi morrendo. hoje, renasce, porque os poetas são eternos e ela brilha
22.1.07
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Estamos a ficar porbres, muito pobres. Em pouco tempo perdemos a Sophia, o Eugénio, o Cesariny e agora a Fiama. E tudo calado, como se não tivesse morrido um poeta. As minhas condolências ao Gastão Cruz. Nós acordamos na mesma de manhã e vamos para o trabalho, mas mais pobres, muito mais pobres.
ResponderEliminarCondolências ao Gastão Cruz? Porquê? Por ter sido casado com ela há quase 40 anos? (Mas deixou de ser há mais de 30.) Por ser pais dos seus filhos? Depois do Gastão houve outras pessoas.
ResponderEliminarCaro Anónimo, e porque não?
ResponderEliminarNão se podem apresentar as condolências a alguém tão próximo como o Gastão foi sempre da Fiama?
E o comum dos mortais tem de saber exactamente há quanto tempo estavam separados e se houveram outras pessoas? Não é mais simples aceitar um acto genuíno e bonito como o do colega acima?
Pedro Carlos