querida, estou a dizer-te de coração. o mais certo que tens a fazer é agarrares-te a ele, de vez por todas, e esqueceres isso de andarem sempre às turras. e não te queixes de ele ser tão feio. deixa lá. podia ser-te bem pior o destino. baixa a saia, não insistas. não vou fazer-te um filho para te vingares da outra. e depois, ter um filho é um acto de grande responsabilidade e eu não queria que escolhêssemos o aborto algum tempo depois. sim, eu sei que abortar vai virar moda, e ficarei invejoso de não estar envolvido nisso, mas não quero, por um capricho que possamos ter agora, recorrer aos hospitais públicos para nos ajudarem, porque, de todo o modo, são hospitais portugueses e o mais rigoroso é tentarem matar-nos de qualquer maneira. estás a imaginar-me tão na flor da idade e enterrado no cemitério de vila do conde. que desperdício. tenho ainda tanto para fazer. amanhã, por exemplo, vem cá um amigo de infância. poderei passar horas a lembrar onde era a casa da professora da escola primária e onde gaudávamos o lanche da nossa amiga gordita. vou divertir-me tanto. não tenho hipótese de me ocupar agora com os pormenores da tua desilusão com o amor. vai. voa voa
(ilustração do maravilhoso chris anthony)
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